PARIS – Um general sírio amigo de longa data do presidente Bashar al-Assad não só desertou como está a caminho de Paris, revelou nesta sexta-feira o chanceler francês, Laurent Fabius, após reunião do grupo de Amigos da Síria. A informação de que Manaf Tlass, comandante da poderosa Guarda Republicana Síria e que estudou no colégio militar com Assad, teria fugido para a Turquia esta semana circulava desde ontem, mas hoje foi confirmada por Fabius e por um site ligado ao regime.
– Posso confirmar que ele desertou e está a caminho da França - disse Fabius.
O general é membro da mais importante família sunita do país e filho do ex-ministro da Defesa de Hafez al-Assad. No entanto, comentários apontam um distanciamento entre o militar e o regime nos últimos tempos, motivado por ele se recusar a tomar parte em ataques a áreas civis vistas como redutos de rebeldes.
A fuga de um militar de alta patente e integrante do círculo íntimo do regime pode provocar novas deserções, especialmente entre militares sunitas, advertem analistas; enfraquecer o aparato de segurança; e aumentar o conflito sectário entre alauítas (ramo muçulmano da família de Assad) e sunitas, minoria no país. A própria família Tlass costumava servir de elo entre os dois ramos.
Acredita-se que o pai e o irmão do general já estejam fora do país. O pai, Mustafa, viajou em março para a França a pretexto de tratamento médico. O irmão, o empresário Firas, estaria em Dubai. Mas ainda não está claro o paradeiro das mulheres e crianças da família.
- Se pessoas como ele (Tlass), e generais e coronéis e outros que recentemente desertaram para a Turquia representam alguma indicação, quer dizer que integrantes do regime e militares estão mudando de posição - disse a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, em Paris.
Para Hollande, situação na Síria representa ameaça à paz mundial
Hillary cobrou nesta sexta-feira uma maior pressão das potências mundiais sobre Rússia e China para mostrar que os países aliados do governo Bashar al-Assad terão “um preço a pagar” por impedirem um maior progresso rumo à transição democrática na Síria. No encontro do grupo Amigos da Síria em Paris, que reúne cerca de cem delegações, a secretária ainda afirmou que as nações interessadas devem “enviar uma mensagem clara” para pressionar Moscou e Pequim.
– Francamente, não basta somente vir ao encontro dos Amigos da Síria porque, vou dizer sinceramente, não acho que Rússia e China achem que estão pagando algum preço por estarem do lado de Assad – afirmou Hillary, no encontro desta sexta-feira. – A única forma de isso mudar é se todas as nações representadas aqui deixarem claro, de forma direta e urgente, que Rússia e China vão pagar um preço porque estão impedindo o progresso, e isso não é mais tolerável – acrescentou.
Hillary repetiu ainda que os EUA desejam uma resolução da ONU sob o Capítulo 7 da Carta das Nações Unidas, que permite ao Conselho de Segurança autorizar ações que vão da diplomacia a sanções econômicas e intervenção militar na Síria.
– Nós deveríamos voltar e pedir uma resolução no Conselho de Segurança que imponha sanções imediatas no caso de a Síria não cumprir as regras – afirmou a secretária.
Rússia e China vetaram resoluções no Conselho de Segurança da ONU que aumentariam a pressão sobre Assad, que luta há 16 meses para reprimir uma rebelião contra o regime controlado há 42 anos por sua família. Os dois países também são contrários à pressão internacional pela saída do ditador e argumentam que outros países não devem intervir em assuntos internos sírios.
Na abertura da reunião em Paris, o presidente da França, François Hollande, também defendeu a saída de Bashar al-Assad e disse que a situação na Síria já representa uma ameaça à paz mundial. Ainda segundo ele, a queda do ditador é um evento “inevitável”, pois o regime sírio não conseguirá suportar as pressões internas e externas.
– Assad deve sair porque é isso que seu povo quer – afirmou. – A Síria se tornou uma ameaça à paz mundial e uma coisa é certa: o regime não aguentará. A queda de Assad é inevitável – concluiu.
O líder francês também propôs a adoção de cinco medidas pela garantia de uma transição democrática na Síria: novas sanções econômicas devem ser adotadas para pressionar o regime sírio; a comunidade internacional pode reforçar o apoio à oposição na Síria; a ONU deve agir o mais rápido possível para ampliar o plano de paz do enviado especial, Kofi Annan; outros países devem oferecer ajuda para a reconstrução da Síria; e indivíduos que tenham cometido crimes contra a Humanidade no conflito sírio devem ser julgados no Tribunal Penal Internacional (TPI).
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